No cenário das ondas grandes da Nazaré existe um monumento que se destaca, o Forte de São Miguel Arcanjo. E, além de tornar o cenário junto da Praia do Norte ainda mais mítico, este espaço também se revela essencial na segurança dos heróis que atacam as maiores ondas do planeta
Quando se fala de ondas gigantes, a Nazaré é hoje em dia a Meca Mundial. E há um monumento que tem destaque central no cenário deste desporto, o Forte de São Miguel Arcanjo, também conhecido como Farol da Nazaré. Este é um espaço que esteve durante vários anos abandonado, mas que hoje recuperou o seu antigo esplendor e tem também um papel fundamental neste desporto extremo, ajudando a garantir a segurança dos atletas e também servindo para algumas das mais espetaculares imagens que mostram como heróis do mar domam ondas com mais de 20 metros.
Quem visitou durante vários anos esta cidade à beira Atlântico via apenas, no local conhecido como “Sítio”, um antigo forte totalmente abandonado e a degradar-se progressivamente. Mas com a descoberta do surf de ondas gigantes tudo se alterou e agora, fruto de um trabalho de intervenção liderado pela Câmara Municipal da Nazaré, o Forte de São Miguel Arcanjo é um local de exposição moderno e aberto aos visitantes de todo o mundo que querem saber mais sobre o local onde foi batido o recorde para a maior onda já surfada no planeta.
A História do Forte de São Miguel Arcanjo
O Forte do Morro da Nazaré, também conhecido como Farol da Nazaré, começou a ser construído no ano de 1577, por ordem do Rei D. Sebastião e antes da perda da independência nacional para os reis Filipes de Espanha. O objetivo era contar com um espaço de observação contra a pirataria e os corsários que atacavam as embarcações no Oceano Atlântico. Após o regresso de um rei português ao trono, D João IV, são ordenadas obras de recuperação e ampliação do Forte de São Miguel Arcanjo, altura em que este edifício militar recebe o nome deste Santo Padroeiro.
Depois de ter sido protagonista durante as invasões francesas e as lutas liberais no século XVIII, o edifício foi perdendo a importância militar. E, por esse motivo, no arranque do século XX a sua história muda, e os pescadores locais aproveitaram o seu local avançado sobre o mar para lhes servir de apoio e segurança, instalando um farol no topo do edifício. A construção deste ponto luminoso, acompanhado de obras de restauração, ficou terminada no dia 1 de dezembro de 1903, e foi por essa intervenção que o Forte de São Miguel Arcanjo ganhou o nome informal de Farol da Nazaré.
O Forte da Nazaré é considerado património cultural e um Imóvel de Interesse Público e tem uma estrutura de estilo maneirista e contornos irregulares, para se adaptar aos contornos do promontório onde se situa. A sua entrada conta. sob a entrada, com uma imagem do seu Santo Padroeiro e uma legenda com a indicação “ELREY DOM JUAN-1644”, que evoca a ampliação ordenada por este monarca. Ele conta com um amplo espaço interior (que durante anos serviu apenas como local para guardar redes e outras artes da pesca) e um topo que, além do farol, tem hoje em dia um espaço ideal para observar as ondas gigantes.
Forte da Nazaré é essencial na segurança dos surfistas de ondas gigantes
Após a chegada de Garrett McNamara à Nazaré, e da descoberta do potencial da vila para o surf de ondas gigantes, o Forte de São Miguel ganhou novo protagonismo. E tudo isso se deve à sua posição cimeira sobre o Canhão da Praia do Norte, onde desaguam as ondas acima de 25 metros que os surfistas mais corajosos se atrevem a domar. Durante a época alta deste desporto extremo, especialmente nos meses de Inverno, todos os dias se podem ver neste local vários membros das equipas, que ocupam um papel fulcral na saúde e segurança dos surfistas.
O surf de ondas gigantes da Nazaré exige três elementos. O primeiro é o próprio surfista, a que se juntam na água os homens das motas de água que os rebocam para as ondas e fazem o seu salvamento. Mas o terceiro elemento da equipa está colocado no topo do Forte de São Miguel Arcanjo, onde, equipado com sistemas de comunicação para os surfistas e homens das motas de água, ajuda na coordenação dos atletas. Isso permite, quando as condições são menos favoráveis, orientar os salva-vidas que estão nas motas e fazer com que cheguem aos atletas de forma mais rápida, permitindo o seu resgate e ajudando à perda de vidas e lesões mais graves.
Com este novo papel, o Forte de São Miguel Arcanjo conseguiu no século XXI continuar a cumprir a sua principal função: proteger todos os que se aventuram nas águas do Atlântico. Inicialmente foram as embarcações de comércio atacadas por piratas, depois os pescadores que viam neste ponto luminoso a esperança de chegar a um porto seguro, e agora são os surfistas que sabem que a sua proteção está garantida pelos homens e mulheres nos pontos de observação no topo desta fortaleza.
Forte presta hoje homenagem aos surfistas da Nazaré
Como já referido, durante vários anos o Forte de São Miguel Arcanjo foi um espaço ao abandono, onde eram depositadas as artes de pesca. O principal impulsionador da mudança do espaço foi Garrett McNamara, que ao chegar à Nazaré para surfar as ondas gigantes reconheceu imediatamente o papel preponderante que este espaço de observação sobre a Praia do Norte poderia ter na proteção dos surfistas. A ligação do mais famoso surfista de ondas gigantes ao local tornou-se tão intensa que este foi até o local escolhido para o casamento de McNamara, celebrado no topo do Farol da Nazaré.
Com o passar dos anos surgiu a necessidade de reconverter o local, algo que acabou por ser concretizado em 2015. Hoje em dia os milhares de pessoas de todo o mundo que se deslocam a Portugal para o turismo de ondas gigantes têm, por isso, um espaço privilegiado para saber mais sobre a história das enormes ondas e dos heroicos surfistas que as vão domando.
O local conta com um espaço de venda e com vários painéis que vão explicando a história do espaço e também do surf de ondas grandes e do Canhão da Nazaré. Além disso, vários eventos e atividades de entretenimento são também realizados no espaço, a maioria dedicados ao desporto extremo que celebrizou a Nazaré em todo o mundo. Se também você quiser saber mais sobre a história das ondas gigantes, uma visita ao Forte de São Miguel Arcanjo é essencial.
Fonte e fotos: