Revista Proceedings of the National Academy of Sciences publicou um estudo que procura explicar como foi o começo da vida na Terra. Analisando as reações químicas, cientistas descobriram a origem da vida no planeta, numa investigação que aponta o caminho para encontrarmos também vida em outros planetas
A maior questão da ciência será, provavelmente, como foi o começo da vida na Terra. E, embora sejam já amplamente conhecidas algumas das condições exigidas para a existência de seres vivos, como uma atmosfera que nos protege dos fenómenos extremos do Universo, uma distância razoável a uma estrela e a existência de moléculas como o oxigénio e o hidrogénio, faltava descobrir o que aconteceu para o começo da vida na Terra. Mas uma nova investigação vem agora dar resposta a esta pergunta.
A origem da vida no planeta terá ocorrido a partir de uma grande explosão química num espaço tão pequeno como uma gota de água, segundo as descobertas publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. As investigações, efetuadas por uma equipa da Universidade Purdue, no Indiana, nos Estados Unidos, revela que foi esse evento , que deu origem a reações até um milhão de vezes mais rápido do que o normal, que esteve na origem da vida no planeta.
Começo da vida na terra aconteceu numa gota de água
Dylan T. Holden, Nicolas M. Morato e R. Graham Cooks, os três investigadores da Universidade Purdue que assinam este estudo, descobriram algo que intriga os cientistas há décadas, encontrando um mecanismo que possibilita as reações formadoras de peptídeos na água. “Esta é, essencialmente, a química por trás da origem da vida, e é a primeira demonstração de que moléculas primordiais, aminoácidos simples, formam espontaneamente péptidos, os blocos de construção da vida, em gotículas de água pura. Esta é uma descoberta inovadora”, afirma Graham Cooks, Professor de Química Analítica nesta Faculdade de Ciências do Indiana.
A Ciência já vinha a afirmar há décadas que o começo da vida na Terra teve origem nos oceanos, mas continuava por descobrir quais as reações químicas que estiveram na sua origem. A conclusão agora encontrada é que os aminoácidos brutos, algo que chegou à Terra na sua fase primitiva devido aos impactos sistemáticos de meteoritos, podem reagir e ligar-se para formar péptidos, que são os blocos de construção de proteínas e, consequentemente, da vida.
Segundo a investigação agora publicada, é esta química com base na água que dá origem às proteínas. Estas evidências, além de dar resposta à questão sobre o começo da vida na Terra, oferecem outros benefícios. Segundo indicam as pesquisas agora publicadas na Proceedings of the National Academy of Sciences, esta descoberta pode permitir o desenvolvimento mais rápido de fármacos para tratar doenças debilitantes e melhorar as condições de saúde e estilo de vida das pessoas.
Por que a água está na origem do começo da vida na Terra
A forma como se formam as reações químicas na origem da vida é, no mínimo, surpreendentemente. Afinal, este processo requer a perda da própria molécula de água, algo altamente improvável num ambiente como os oceanos. Mas, para a formação da vida, em partículas minúsculas, era simultaneamente necessária a água e um espaço longe dela. Cooks, especialista na tecnologia de espectrometria em massa e química do início da Terra, perceveu como isso é possível, afirmando que “a água não está molhada em todo o lado”.
Explicando com mais pormenor, é referido que nas margens das gotas de água está uma atmosfera onde podem ocorrer reações incrivelmente rápidas, que transformam aminoácidos abióticos nos blocos de construção da vida. Exemplos de momentos em que isso é possível são os lugares onde o orvalho do mar voa na orla costeira através do ar e as ondas atingem a terra, ou as zonas onde a água doce jorra por uma encosta. Estas eram, portanto, paisagens férteis para a potencial evolução natural e o começo da vida na Terra.
Para chegar a estes resultados, os três químicos passaram mais de uma década a usar espectrómetros de massa, com o objetivo de estudar reações químicas em gotículas de água. “As taxas de reação nas gotículas são entre 100 e 1.000.000 vezes mais rápidas do que os mesmos químicos que reagem numa solução a granel”, prosseguiu Cooks. É essa velocidade acelerada das reações que elimina a necessidade de catalisadores e que, no ecossistema da Terra primitiva , possibilitou a origem da vida.
Perceber a origem da vida para a procurar em outros planetas
Compreender como funciona este processo essencial para o começo da vida na Terra foi durante décadas o objetivo de investigadores. Descobrir o segredo do começo da vida na Terra pode ajudar os cientistas a entender as condições necessárias para a existência de vida nos planetas. E, como tal, pode ser um importante contributo para direcionar as pesquisas astronómicas para planetas e luas onde o potencial para a existência destas reações químicas é mais elevado. Altura em que, obviamente, será necessário ter protocolos para saber falar com extraterrestres.
Graham Cooks explica que “se andarmos por um campus universitário à noite, os edifícios com as luzes acesas são onde funcionam os químicos sintéticos. As suas experiências são tão lentas que duram dias ou semanas”. Mas, com as novas conclusões da investigação que liderou, isto deixa de ser necessário. Usando a química da gota, “construímos um aparelho que está a ser usado agora em Purdue para acelerar a síntese de novos químicos e potenciais novos fármacos”, explicou Cooks.
Portanto, mesmo tendo encontrado a resposta à incrível questão sobre o começo da vida na Terra, esta investigação continua e promete dar origem a novos achados. Talvez uma dessas respostas será quando portentos da ciência como o Telescópio James Webb descobrirem que não estamos sozinhos no universo…
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